JAMES MARTINS

nenhuma poesia

quarta-feira, julho 13, 2016

a língua é minha frátria


quarta-feira, março 27, 2013

Meras palavras sobre um lance visual


Diante de tanta miséria crítica, às vezes é necessário ao artista fazer as vezes de comentador do próprio trabalho. Aconteceu em todo o modernismo (que, por sinal, ainda não passou), quando público e especialistas foram pegos de calças na mão. Bom, a ação (não me atreveria a falar em ‘obra’) que vim comentar não é nada demais, e eu nem mesmo saberia precisar sua importância, mas que merece menção nesse mar de marasmo, merece. Uma pequena jogada visual. Tudo começou quando decidi incluir o pintor e amigo Cícero Matos no pós-lida essencial de hum/ano. Cícero iria lá para pintar. Ele, que vai do batik às geladeiras, propôs pintar uma tela mesmo quieto no seu canto de pássaro selvagem. Achei pouco. E aproveitei a ocasião para interferir (sem discutir) em toda essa discussão ainda vigente sobre a morte da pintura, ‘teatro-boate-cinema...’ resolvi então misturar as coisas, mas de um modo que, no final, tudo pudesse voltar aos seus (in)devidos lugares. Como no recital costumamos usar uma tela para projetar as imagens dos convidados e outras coisas, quis eu que aquela fosse então a mesma tela da pintura. Nada no canto. Conversei com Cícero e o pedi que usasse uma roupa branca, já que parte da projeção acabaria esbarrando nele e nem chegado à tela: constelando o pintor. Mas isso dependeria também do movimento do artista, que por sua vez seria determinado pela pintura (pela ação de pintar e pelo que o quadro pedia). Ou seja, às vezes uma imagem que estava em sua cabeça podia passar para o braço ou ainda se acomodar suavemente na tela onde sangravam as pinceladas e depois voltar ao início. Etc. Se isso influenciaria a criação, não sei. E de fato pouco me interessa.

Alguém ainda se lembra daquela declaração de Man Ray? Tome: “Comecei minha carreira como pintor. Ao fotografar minhas telas, percebi o interesse de sua reprodução em preto e branco. Um dia, cheguei a destruir o original para ficar somente com a reprodução. Desde então, passei a acreditar que a pintura tornou-se uma forma de expressão ultrapassada e que a fotografia iria destroná-la quando o público fosse educado visualmente... Só tenho certeza de uma coisa – preciso experimentar, com uma forma ou outra. A fotografia me fornece meios para isso, meios mais simples e ágeis que a pintura”. Depois viu-se que a coisa não era tão simples assim. Enfim, meus planos incluíam também as duas formas de expressão que vieram para matar a pintura: fotografia e cinema (no caso, vídeo – que veio para matar o cinema). Chamei a fotógrafa Amana Dultra e o vídeomaker Matheus Pirajá e lhes pedi atenção especial ao ‘evento’ projeção+pintura+camisa-corpo em seus registros. E, mesmo as pessoas presentes com quem não conversei sacaram na hora o que se dava e trataram de registrar o lance com suas portáteis. Os diversos resultados, não sendo mais que o que são (vídeo-vídeo, foto-foto, projeção-projeção e pintura-pintura) acabam inevitavelmente se contaminando com as outras formas e falando mais que mil palavras em todo aquele bafafá teórico. E tudo dentro da mais pura representatividade, o que me agrada especialmente. E, além do além, tudo banalizado pela internet, que é o fim de todas as eras e o encontro de todas elas.

Outra coisa ainda, no que diz respeito à autoria. Vocês já sabem que a palavra tem que ver com autoridade né? Senão vejamos: "A palavra 'autor' deriva do latim auctor, que, por sua vez, deriva, através de uma cadeia linguística, de uma palavra que significa aumentar ou desenvolver. Auctor significa alguém que dá origem ou promove e não uma pessoa cuja palavra se tornou canônica. Autoridade e autor têm a mesma raiz e as práticas medievais davam-lhes um sentido idêntico". Pois assim sendo, mesmo as fotos sendo de Amana (ou Luna ou Alessandra) e o vídeo de Pirajá e o quadro de Cícero e a projeção do Skype, sinto-me autorizado a reivindicar autoria no lance. Quando vejo as imagens de Rennó meio dentro de sua cozinha meio no meio do rol das baianas de Cícero; Ou a sombra do pintor fazendo em preto um espaço em branco de alguma imagem; Ou ainda o batmakumba escrito por trás e por cima das macumbeiras (seriam macumbeiras?); Ou ainda outra vez quando tive o ímpeto de juntar a capa que Dicinho fez para Gal com lápis-aquarela e a recente tela... Sinto-me contente por ter atiçado (criado) um lance legal no campo da “inelutável modalidade do visível”, como diria meu xará James Joyce. E note-se que tudo foi feito sem levar em consideração as imagens da projeção (inclusive muita coisa era 'ao vivo'). Ou seja, podemos ter vários outros resultados com escolha mais elaborada. E outras aplicações. Exemplo: um pintor que pinte exatamente o que está sendo projetado, dentro da sua linguagem própria, e tendo apenas o tempo da projeção, que pode inclusive ser cronometrado. Ao final da tela começa-se outra. E no final de tudo fazemos um leilão dos instantâneos. Sim, pode ser das fotos.

Mas eu falei em James Joyce. Gosto sempre de lembrar o compadre. E é sempre oportuno. Mas desta vez acho que o trecho inteiro donde retirei a frase citada cai como uma luva em nossas chuteiras. "Inelutável modalidade do visível: pelo menos isso se não mais, pensado através dos meus olhos. Assinaturas de todas as coisas estou aqui para ler, marissêmen e maribodelha, a maré montante, estas botinas carcomidas. Verdemuco, azulargênteo, carcoma: signos coloridos. Limites do diáfano. Mas ele acrescenta: nos corpos. Então ele se compenetrava deles corpos antes deles coloridos. Como? Batendo com sua cachola contra eles, com os diabos. Devagar. Calvo ele era e milionário, maestro di color che sanno. Limite do diáfano em. Por que em? Diáfano, adiáfano. Se se pode por os cinco dedos através, é porque é uma grade, se não uma porta. Fecha os olhos e vê". Tudo está dito. Tudo é infinito.

Mais fotos aqui e aqui.
Vídeo.

terça-feira, março 26, 2013

Vamos acabar de uma vez com a cobrança de 10% em bares e restaurantes

Taí um modo de extorsão velada cuja extinção se faz necessária e urgente: a taxa (supostamente) opcional de 10% em bares e restaurantes. Não estou falando em proibir o rateio entre os demais funcionários, como ocorreu recentemente. Não. Estou pedindo a PROIBIÇÃO imediata da cobrança. Cadê os advogados sérios deste país? Os motivos são óbvios, perdoem-me repeti-los. O fato de vir um valor pré-estabelecido, já somado ao final da conta, confere um caráter indutivo (e até mesmo extorsivo) à taxa. O que era opcional torna-se praticamente obrigatório e inclusive gera muita confusão. Senão vejamos: meu amigo Elton Magalhães conta que, em um bar no Porto da Barra, o garçom que o atendera pessimamente ficou super aborrecido quando ele o informou que não pagaria a taxa de 10% pelo serviço. Cara feia, resmungos, etc. De outra vez no mesmo lugar, prevenido, o garçom já informou o valor da cerveja 10% mais caro! É isso. E os exemplos são muitos. Em Mar Grande há uma barraca na praia (lá ainda tem barracas) que é excelente, comidinha boa, bebida gelada, atendimento eficaz. Só que no rodapé do cardápio está impresso: “taxa de serviço 10% do valor da conta”. E nem arrisque o papo de opcional que não cola. A instituição de um valor fixo para gorjeta é um evidente desvirtuamento do próprio conceito de gorjeta, uma aberração que colabora com o péssimo nível dos nossos atendimentos. Gorjeta é outra coisa. Se sou bem atendido, agradado, retribuo com um agrado ao garçom. Senão, não. E se não quero ou não posso dar nada além do valor consumido, fica pra próxima. Sem que eu tenha de passar pelo constrangimento de (em alguns casos) pedir para retirar o valor arbitrariamente acrescido. Afinal profissionais ganham salário. Eu mesmo já paguei várias vezes só por vergonha de dizer não. E afinal, quem decidiu que tem que ser 10% e não 20% ou 3% ou 15%?

Lelê, minha mulher, tem um palpite. Como as operadoras de cartão de crédito e débito cobram 10% do valor da conta aos estabelecimentos a cada operação na maquininha, eles resolveram repassar os gastos. Faz sentido. Contudo, essa conta não é minha. E afinal (repetindo) profissionais ganham salário e os donos mais ainda. Porque eu não pago 10% à garçonete do McDonald’s que ganha uma miséria? Porque não se paga 10% ao vendedor de sapatos ou ao sorveteiro? Imagine: - Quanto é o sapato? – Cinquenta reais. – Vou levar. Vem a nota fiscal: R$ 55 (R$ 50 – produto + R$ 5 opcional). Me faça uma garapa! Se o taxista for gentil tem direito a 10% do valor do taxímetro? Mas este último exemplo tem um defeito: os garçons te cobram os 10% se te tratarem bem ou a pontapés. Já me aconteceu inúmeras vezes. Repito: gorjeta é outra coisa. Inclusive, bares e restaurantes que não cobram 10% têm (não raro) atendimento melhor. É assim no Porto do Moreira (Largo do Mocambinho, 488). E, com isso, muita vez as gorjetas ultrapassam os 10% estabelecidos. Mesmo assim, alguns garçons, quando vêm trazer a conta no Moreira dizem: - “Só não tem os 10% do amigo”. É a força do hábito. Pois é preciso proibir que os ‘10% do amigo’ venham somados ao consumo. Por que todo produto de um bar seria 10% mais caro? Além do mais, falcatrua puxa falcatrua. Se a gorjeta você entrega no bolso do garçom, os 10% muitas vezes nem sequer chegam lá. Dia desses aqui no Santo Antonio Além do Carmo a menina que me cobrou a conta disse, sobre a taxa: - “Não pague não que não repassam mesmo”! (Porém, este não é o problema maior, mas apenas um dos aspectos do problema que a não proibição da cobrança permite e potencializa). Esse negócio de 10% não faz o menor sentido, é um golpe, uma aberração. Estou contando com os advogados para solicitar a quem de direito a proibição da taxa. Dou 10% dos rendimentos deste artigo. Não preciso nem contar nos dedos.

segunda-feira, março 25, 2013

agora-pós-lida

só para os interessados de verdade (que não constituem multidão) a íntegra do que eu disse na abertura do pós-lida essencial de hum/ano:

boa noite. não costumo anotar falas, sou mais de chegar e falar. mas, como esses dias andei lendo bastante as conferências anotadas do professor e obá de xangô vivaldo da costa lima (que deus o tenha!), decidi tomar nota do que dizer nesta ocasião bonita. alguma coisa pelo menos, visto que vivaldo anotava até mesmo os improvisos (um dia eu chego lá!). enfim, um ano dessa lida do pós-lida. o que swingnifica isso? ora, que somos persistentes e que, de um jeito ou de outro, o inferno não é aqui. quando resolvemos (alana silveira, alessandra benini, álvaro andrade, mariana risério e eu) encarnar este recital de poesia e alguma prosa que serviria de encontro de amigos e laboratório de idéias-evento, a primeira intenção era não deixar as veias da cidade entupirem totalmente. e continua sendo. pós-lida, um modo de dizer ‘no princípio era o verbo’. e sim, nós vimos como é difícil andar se tem uma cidade inteira parada na sua frente. mas cá estamos nós, um ano depois, conjugando com chico science que salvou a sua (ou o seu) recife: ‘um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar’. no entanto, é preciso que eu diga que nós do pós-lida não somos o que muita gente pensa (e que é como a imprensa despreparada e os pedagogos analfabetos nos tratam): uma espécie de serviço social. não. nós somos um recital de poesia e, assim sendo, somos uma festa e um templo (um templo sem deus, como o do vinicius?), e, assim sendo, somos muito mais importantes que essa bobagem toda que o desespero incute aos homens e mulheres. e não passamos disso. aliás, eu acho inclusive que, no mais das vezes, serviço social serve mais ao servidor que ao serviçal. sempre nos tratam, aos poetas e aos eventos ligados à poesia e/ou literatura, como se estivéssemos ao mesmo tempo pedindo e dando esmolas, para aludir aqui à bela canção do nosso galvão. mas é preciso estar atento e forte. o que o tempo pede já é uma outra coisa: um novo tempo, apesar dos perigos. agora, há que se colocar questões estéticas e cartas na mesa. de modo lúdico, mas também de modo lúcido. porque senão até a chuva cansa de chover no molhado e tudo o mais, (tudo. até mesmo vir brincar no pós-lida) cai no automatismo da lida. a questão é: o que significa exatamente fazer um poema nos dias de hoje? bom, se esta perguntinha besta soar besta aos ouvidos de todos, então realmente é melhor voltarmos pra casa e plantar batatas. quem tiver olhos, ouça: a manipulação do petróleo, ou a manipulação do ferro, ou do aço, do manganês, ou da bauxita, ou da madeira, ou do que quer que seja, não se compara em importância à manipulação da palavra pelo homem. e não estou falando em importância por ser festa ou por ser útil. não é culpa minha que o trabalho com a palavra-linguagem-pensamento seja divertido pacaralho e dê todo esse prazer. é como o sexo. deus deu sabor ao que de mais importante há para ninguém ter desculpas na hora h. e cá estamos: pós-lida hum/ano, demasiado hum/ano. daqui, ou de lugares assim saem decisões de ordem prática como fazer ou não fazer a ponte salvador-itaparica. até porque, sem passar pelo que se passa aqui (ou por lugares assim), não adianta nada fazer ou não fazer. e pós-lida (os outros lugares assim nem sempre) é um lugar de rigor ou de pretensão de. cito aquela reflexão de paulo valéry, que joão cabral de melo neto tomava como o homem mais inteligente de todos (do mundo e de todos os tempos. notem: certezas assim tão certas eu só conheço em carlos rennó, que sabe qual a canção mais bonita do brasil, o livro mais lindo da língua portuguesa e assim por diante e as diz com a tranquilidade de quem come um umeboshi). mas, antes, devo fazer uma outra-pequena-digressão-citação: da mesma forma que o igor stravinsky dizia de debussy – é o compositor mais importante para mim; eu digo e repito a respeito de joão cabral – o poeta mais importante para mim. agora vamos à reflexão do francês autor de ‘o cemitério marinho’ (título que bem poderia definir salvador em algumas ocasiões): abraspas: ‘isso me impressiona, há 40 anos – que as especulações feitas com rigor conduzam a mais estranhezas e perspectivas possíveis e inesperadas que a fantasia livre – que a obrigação de coordenar seja mais produtora de surpresa que o acaso’: fechaspas. taí um bom dado para esse pessoal da infalibilidade da expressão qualquer que seja, tática utilizada para encobrir a própria miséria criativa. o conceito de conceito também tem servido muito para isso. mas enfim, a adesão a uma forma, estilo ou escola (ou a não aderir a nada), não garantem o fracasso nem o sucesso de nada. taí o glauco mattoso sonetista que não me deixa mentir. sexo e poesia. e quem há de negar que esta lhe é superior. quero agora agradecer a todos os presentes, a todos os amigos que estão fazendo esse negócio todo conosco. não vou citar os nomes dos convidados porque já estão impressos por aí (embora eles mereçam sempre menção e remenção). mas é importante destacar essas pessoas que estão aqui sempre presentes e que fazem parte do motor (eu espero em breve convidar algumas delas também para figurar no cartaz -riam, por favor-): geraldo figueiredo, elton magalhães, bernardo linhares, patrícia conceição, guilherme piropo, davi boaventura, leila pimenta, gilson dultra, bruna rocha, robson poetadurap, daiane nascimento, pó, xuxu, caetano ignácio, rosângela (rosa, que até fez um poema pro pós-lida)... enfim, certamente esqueço alguns, mas se sintam incluídos todos. sabe como é memória né? da equipe, digamos, oficial, fazem parte amana dultra (nas fotos), matheus pirajá (nos vídeos), rafael almeida (nos cartazes), alana e alessandra já citadas. mari traíra. álvaro exilado. a equipe da baluart produtora (lívia cunha, fernanda félix e mariana gomach) e eu. sem esquecer também o sebo praia dos livros (onde estamos), na pessoa de cris que assumiu a batalha que já foi, por um bom tempo, de dani. bom, assim eu dou por abertas as porteiras citando aquele lemantra do poeta drummond de andrade (dessa vez sem nem parodiá-lo): ‘lutar com palavras é a luta mais vã / entanto lutamos, mal rompe a manhã’. e vai rolar a festa, que a poesia precisa voltar a NÃO ser o que era antes.

segunda-feira, março 18, 2013

Qual é o plano para os planos, Netinho?


Vou direto ao assunto. O problema é o seguinte: o trânsito em Salvador está uma droga. Óbvio. A cidade, até por uma questão geográfica, vai ter (já tem) muitas dificuldades para enfrentar a questão. Óbvio. As alternativas ao malfadado transporte rodoviário são poucas e, devido ao relevo, não vão aumentar muito. Ok. Daí eu pergunto ao prefeito ACM Neto, porque é então que um dos nossos poucos trunfos nesse quesito, a saber, os planos inclinados e elevadores, vivem parados e (pior ainda) substituídos pelos famigerados ônibus? Morro de vergonha toda vez que passo na Praça Municipal e vejo os turistas suando em filas gigantescas para conseguir uma vaga no Elevador Lacerda ou ainda tendo que trocar o passeio pelos desagradáveis e poluentes microônibus. Sem falar nos soteropolitanos nossos de cada dia que utilizam o veículo para ir ao trabalho. Mas, eu falei no Elevador Lacerda quando na verdade o drama maior é dos planos inclinados. Ora, um plano inclinado é uma maravilha! Em poucos segundos o sujeito que estava na Liberdade está na Calçada. E vice-versa. Sem engarrafamento, sem fumaça, baratinho. E tem mais, como a maior parte do sistema é mecânica, não há grandes dificuldades para manutenção. Resumindo: se botar um jegue ou dois malhadões de cada lado da linha puxando o cabo de aço, a cabine sobe e desce. Porém, pasmemos todos, tanto o Plano Inclinado Liberdade-Calçada (PILC), quanto o Plano Inclinado Gonçalves (Praça da Sé-Comércio), assim também o Plano Inclinado Pilar estão parados. Os dois primeiros há muito tempo já. E, no caso do PILC, ônibus oferecidos pela prefeitura o substituem, pelo visto para sempre. É um enorme retrocesso que deve interessar a alguém. Os ônibus demoram 700 vezes mais para chegar no mesmo lugar, ajudam a engarrafar a cidade, poluem, atropelam, etc. etc. etc. E devem ser alugados (provavelmente sem licitação e pelos olhos da cara) de alguém a quem, por isso mesmo, interessa muito que os planos inclinados nunca mais funcionem. Faço um desafio: abram essas contas e vejam se com o dinheiro gasto nos ônibus-provisórios já não dava para botar o plano em funcionamento umas 15 vezes, no mínimo.

E, no caso do Elevador Lacerda, não adianta alegar as novas cabines e tal. Ótimo que elas sejam novas e climatizadas. Mas, só vamos sossegar quando ele funcionar com força total e dignamente (note-se que nos tempos de Imbassahy o horário de funcionamento era muito mais largo, até meia-noite, o que beneficiava os moradores do Subúrbio com negócios no Pelourinho e adjacências), aposentando de vez o ônibusinhos de merda. Qual é o negócio? Sim, porque só pode ser um negócio. Afinal, o que justificaria que, dentre os três ‘planos’ a opção seja, quando funciona, pelo funcionamento do Pilar, que quase ninguém utiliza? Posso falar de camarote, porque moro bem em frente ao dito cujo e conto os gatos pingados que sobem e descem mais por lazer que por serventia. Enquanto isso o povo da Liberdade e da cidade baixa que tinham no PILC uma mão na roda, fica a ver navios. E nem isso, já que mesmo o espaço que servia de mirante está cerrado também. Se já era uma vergonha nos tempos do parasita João Henrique, para um prefeito jovem e ambicioso como Neto é inadmissível. Eis o que eu quero dizer: desconfio que alguém lucra com o sucateamento dos transportes alternativos de Salvador e sua substituição por microônibus. Tenho certeza de que não é o povo e que, muito ao contrário, essa história já foi longe demais. Bom, se o prefeito quer realmente demarcar uma diferença entre si e o fracasso que o antecede, deve encarar a questão com urgência e dar um basta. E se tem alguém mamando nessa teta, que mande pastar noutro lugar. Rapaz, qualquer condomínio da cidade consegue manter seu elevador funcionando. Como é que só a cidade inteira não consegue? É o carimbo da incompetência. Já basta não termos metrô. Temos ainda que passar o vexame de não conseguir botar um plano-inclinado para funcionar? Quando acaba dizem que baiano burro nasce morto.

quarta-feira, março 13, 2013

O Pelourinho e a cretinização total da cidade

As duas últimas vezes que encontrei (por acaso) o poeta e antropólogo Antonio Risério, ouvi dele a mesma frase, referindo-se a Salvador: “Cidade de cretinos”. E, sempre que vou ao Pelourinho (e eu vou muito ali), a queixa do poeta volta e me acerta como uma pedrada. De crack. Mas, quero falar da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, de que eu tanto me orgulho e que, ultimamente, tem sido motivo de meu dissabor e símbolo da cretinização (oficial e espontânea) da cidade. Pois bem, há alguns anos a igreja foi atingida por um caminhão desgovernado que derrubou parte de seu portão principal e motivou a interdição do local para reforma. Longa reforma, por sinal. Até que, finalmente, no dia 15 de abril de 2012 o templo sagrado foi reaberto, para alegria dos tantos fiéis que frequentam as suas missas sincréticas. Como bom baiano, eu estava lá. E, a primeira coisa que notei: não reformaram nada! O portão quebrado continuava intacto. Talvez até um pouco mais quebrado. E, no interior, o reboco, fofo, caía aos pedaços. Outra coisa que me chamou a atenção, a ausência do governador na ocasião. Impossível não pensar em ACM e em sua ligação com essa parte da cidade. Eis o que eu me perguntava, sem achar resposta: por quê? Sim, aquela reforma era a cara do PT baiano. E a ausência de representantes do governo comprovava que eles não estão nem aí e nem estão chegando. Voltei para casa ainda sem entender o porque de uma reforma tão longa e tão nula. Para onde foram os recursos se até a pintura ía só até metade das paredes?

Pois bem, sem jamais saber ao certo se a galinha vem antes do ovo (ou vice-versa), eis que a cretinice governamental se espalha e espelha na população e chega inclusive às tradições. Para conseguir uns trocados a mais dos turistas lisos, lesos e loucos que vêm ao Pelô, os ambulantes locais (que, diga-se, estão bem mais educados e menos extorsivos!) inventaram a imbecilidade de que, se alguém amarrar uma fitinha do Bonfim (que eles dão de graça para depois quase te forçarem a comprar um colar) nas grades da igreja (as mesmas grades amassadas e humilhadas – vide foto) e fizer um pedido, será atendido. Resultado: o sóbrio templo muito mais ligado à luta que à súplica virou uma espécie de self-service-fast-food da fé. Agora, o tempo inteiro vem uma turistinha de sandália de couro, amarra sua fitinha na grade e faz um pedido para nem-sabe-quem, cretinizando o que já estava abandonado (porém, digno). Coisa horrível! E, além de tudo, é uma fita do Bonfim. Será que eles dizem que se trata de uma filial? Não duvido. Aliás, o Pelourinho, em matéria de simbologia, está se esvaziando totalmente em nome dos parcos lucros do turismo-fast-food. O local histórico (quase mítico), cheio de coisas para contar e para mostrar, se contenta agora em exibir a sacada onde Michael Jackson no auge da decadência veio filmar o videoclipe (antes que os idiotas apressados se mani-ainda-festem, digo que eu adoro MJ desde criancinha). Enfim, um turista desses desavisados e atrapalhados por guias incompetentes, sai daqui jurando que o Rei do Pop fez mais pelo Centro Histórico que Neguinho do Samba ou Vivaldo da Costa Lima. Quem? Essa porra tem que parar! Nada de fitinhas do Bonfim no Rosário dos Homens Pretos e nem três pedidos para o gênio da lâmpada, cacete. Tenhamos decência, porque Anastácia dorme de olhos bem abertos nos fundos do templo. É isso aí, Risério: cidade de cretinos!

quarta-feira, maio 11, 2011

Ao Marechal Castelo Branco


Se num mesmo nível de tempo
tivéssemos coexistido,
eu sentiria a antipatia
que te tiveram seus amigos.

De perto, eu só veria o mau
caráter, marcas de bexiga,
o personagem de mau hálito
com que construíste tua vida

(com que construíste ou foste tu
o construído por sua vida?
É fácil condenar uma vida
de fora, sem ter que vesti-la:

como saber se aquela vida
foi camisa apertada e curta
e viver dentro dela, sempre,
foi a luta contra as costuras?).